Num marco histórico para as telecomunicações ibéricas, a Telefónica concluiu oficialmente o desligamento da sua antiga rede de cobre em Espanha, encerrando os últimos 661 centros de comutação a 27 de maio. Este movimento encerra um ciclo iniciado em 2014 com o fecho simbólico das centrais em Sant Cugat del Vallès (Barcelona) e Torrelodones (Madrid), dando lugar a uma infraestrutura 100% em fibra óptica — muito mais rápida, eficiente e sustentável.
Ao longo desta década de transição, a gigante espanhola desmontou mais de 8.500 centrais, substituindo a rede obsoleta por fibra óptica, que, segundo a própria operadora, é 90% mais eficiente em termos energéticos e exige manutenção mínima. A decisão de antecipar em um ano o fim do cobre — inicialmente previsto para abril de 2025 — resultou num dos maiores avanços tecnológicos do setor europeu, liderado por Espanha.
O impacto é colossal: 16,6 milhões de linhas de fibra foram comercializadas, representando 89,3% de todas as conexões fixas de banda larga em território espanhol. A rede da Telefónica atinge hoje 31 milhões de imóveis, posicionando-se como referência europeia na cobertura em ultra banda larga. Para alcançar este feito, foi necessário desmantelar 65.000 toneladas de cabos e reciclar mais de 7.140 toneladas de resíduos eletrónicos e equipamentos.
A decisão de acelerar o desligamento foi também influenciada pela CNMC (Comisión Nacional de los Mercados y la Competencia), que, em 2021, encurtou o prazo de notificação para o encerramento das centrais de cinco para dois anos, facilitando a transição tecnológica.
Mas enquanto Espanha avança a passos largos, Portugal permanece parcialmente ancorado ao passado. Apesar de operadoras como a MEO (Altice Portugal) e a Vodafone estarem a investir fortemente na expansão da fibra, a realidade é que o cobre ainda resiste em vastas zonas rurais, regiões insulares como os Açores e a Madeira, e até em periferias urbanas.
Em particular, a NOS continua a depender significativamente da tecnologia de cobre em muitos destes territórios, onde a densidade populacional e os elevados custos de implementação da fibra ainda não justificam a substituição imediata. Esta infraestrutura ultrapassada limita as velocidades de ligação e a estabilidade da rede, colocando Portugal numa posição desigual face ao seu vizinho ibérico.
A manutenção destas redes de cobre, obsoletas e dispendiosas, levanta questões estratégicas sobre o futuro da conetividade digital em Portugal. A demora na migração para a fibra compromete não só o desempenho tecnológico, mas também a competitividade nacional no panorama digital europeu. Com Espanha a encerrar o capítulo do cobre, a pressão sobre as operadoras portuguesas aumenta — e a necessidade de acelerar a transição é mais urgente do que nunca.